Guasqueiro:

O Guasqueiro é o artesão que usa o couro cru como principal matéria-prima de seus trabalhos. O termo tem origem na palavra “guasca”, que significa pedaço ou tira de couro não curtido, sendo o profissional, aquele que faz trançados exclusivamente com este material.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Pátria Guasca - payada

Dom Arabí Rodrigues - www.arabi-rodrigues.blogspot.com
Homenagem ao Xico Das Cordas (Hercules Rodrigues)

Meus Irmãos das sesmarias
da pátria pampa, querência
permitam quando a consciência,
se levanta à luz do dia,
pra demonstrar alegria
ao reencontrar um parceiro,
talentoso, tarimbeiro,
destes do garrão torcido
agora mui conhecido
pelo tal: XICO guasqueiro...

Não faz muito, este campeiro,
trançador, por dom inato,
vendia o próprio retrato
num balcão, de bolicheiro.
Mas o destino, um luzeiro,
que Deus entrega pra gente
volteou de vez o vivente,
pra verdadeira missão:
de trançar cordas a mão
pra palanquear o pressente.

A tua presença, ausente,
me fez pensar no passado,
quando de ombro calçado,
mundo novo a nossa frente,
transbordando de contente,
desquinava alguma idéia
à frete duma platéia
que lotava o coração.
Te vi trançando emoção,
no Teatro da Assembléia.

Ali, revi “Dulcinéia”,
Don Quixote de la Mancha,
e Servantes abrindo cancha
ao largo da tua estréia.
Enquanto eu, da epopéia
de Vitor Mateus Texeira,
cruzava o tempo, a fronteira,
de tudo que aqui existe.
Só pra ser o canto triste
da querência, à Pátria inteira...

Por fim um mate cevado,
erva buena da Palmeira,
logo depois que boiera,
desponta no céu dourado,
trazendo o sol cabresteado,
num sovéu de cinchar touro,
não precisa de cachorro,
sendo XICO guasqueiro,
vem a trote pro potreiro,
pra “modi” manter o couro

NH. casa do rio, Natal de 2009

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Entendendo melhor um Guasqueiro.

Carnal: Lado do couro que está pegado à carne do animal.

Guasca: Tira, correia, corda de couro cru, isto é, não curtido. Denominação dada aos rio-grandenses pelos filhos de outros Estados, pelo fato de, em vista da predominância da industria pastoril e da carência de outros materiais, haver sido generalizada o emprego do couro cru para as mais diversas finalidades. Essa designação, a princípio, teve significado pejorativo, sendo hoje perfeitamente aceita pelos rio-grandenses que dela se orgulham.

Lonca: Denominação dada a parte do couro do cavalar ou muar, tirada dos flancos, da região que vai da base do pescoço até às nádegas. A lonca não é curtida. É utilizada para fazer tentos ou para retovos. para pelar a lonca se usa faca ou cavadeira de pau, após curtimento com cinza. (A palavra é de origem platina, lonja, que significa couro descarnado, com pelo ou sem ele).

Lonquear: Preparar o couro, em geral do cavalar ou muar, limpando-o e raspando-lhe os pêlos, afim de utilizá-lo depois para feitura de tentos, tranças, costuras e retovos. Courear, no sentido de tirar o couro do animal morto no campo, de peste, magreza ou desastre.

Preparos: Aperos, arreios. Peças que formam o arreamento do animal de montaria, de tração ou de carga. Os aparelhos de cois das carretas de bois.

Sovador: Pedaço de pau, com mais ou menos dois palmos de comprimento e uma ou duas polegadas de diâmetro, fendido longitudinalmente até dois terços do seu tamanho, utilizado para amaciar guascas de couro. O mesmo que mordaça.

Tento: Tura fina de lonca que é empregada para costurar couro, para fazer botões e passadores, para atar alguma coisa, e para muitos outros fins. Tira de couro cru utilizada para a feitura de laçõs, sovéis tamboneiros, relhos, qualquer aparelho trançado e inúmeros outros usos.

Fonte: Dicionário de Regionalismos do Rio Grande do Sul. Zeno Cardoso Nunes e Rui Cardoso Nunes - Martins Livreiro


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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Breve histórico do Guasqueiro

A origem deste ofício remonta ao período de colonização espanhola e portuguesa na América do Sul, quando o “gaúcho histórico” começava a desbravar os campos do Rio Grande do Sul e dos países do Prata, caçando o gado selvagem abandonado pelos jesuítas espanhóis. Nesta época, surgia, então, o trabalho do guasqueiro, que era o de fabricar artigos de couro para montaria. Os cavaleiros aproveitavam o tempo livre em dias de chuva e em períodos de ócio entre as guerras para desenvolver complexos trançados de couro, destinados não somente para deter e guiar a sua montaria, mas também para embelezá-la.



Com a divisão dos campos em estâncias, o gaúcho tornou-se peão de campo e a atividade de guasqueiro manteve-se viva no cotidiano. Alguns passaram a se dedicar exclusivamente à profissão e a fabricar os aperos. Atualmente, com o crescimento dos criatórios de eqüinos no Estado e o renascimento do tradicionalismo, os guasqueiros reaparecem com força total.

Texto: Rodrigo Lobato Schlee | guasqueiro.blogspot.com


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Mulato Guasqueiro


5ª Galponeira de Bagé
Mulato Guasqueiro (Letra: Otávio Severo e Rafael Xavier; Música: Zé Renato Daudt).
Intérprete: Jari Terres.
Violões: Silvério Barcelos e André Teixeira.
Gaita: Giovane Marques.
Baixo: Luis Fernando Bender.


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Romance do Guasqueiro Só

Loresoni Barbosa

Agosto alçou o poncho
sobre os ombros da coxilha,
entranhando nas canhadas
todo sabor da invernia.
A noite chora nos campos
serenas lagrimas frias,
já não se vêem pirilampos
luzindo pelas campinas.

Reflete n'água do açude
uma tropilha de estrelas,
repontada pela lua
entre nuvens passageiras,
a boeira mostra o rumo
pro coração estradeiro,
que retumba cá por dentro
estropiado, sem parceiro.

Um temporal de saudades
encharca as noites de espera,
ausência bate na porta
deixando o peito tapera.
No remanso há um par de sonhos
boiando no mate frio,
são retalhos dos meus olhos,
que mergulharam no rio.

As raízes do espinilho
vão abraçando as cambonas,
o fogo queima horas largas
sigo entoando milongas.
O minuano assoviando
vem descendo as canhadas,
repontando quero-queros
na solidão das estradas.

Procuro versos costeiros
pelos ga1pões da memória,
sovando corda e recuerdos
ao lento passar das horas.
E quando a saudade apeia
nos pensamentos guasqueiros
tranço lamento e poesia
guitarreando pros luzeiros.

Quem sabe os ventos teatinos
que vagueiam campo a fora,
tragam teus 1ábios sorrindo
pra matizar minhas auroras.
Pois quem encanta as estrelas
com versos e partituras
há de encontrar uma delas
perdida nessas planuras.

Minhas retinas se alargam
mirando ao largo a boeira
e o rneu cantar procurante
ressoa ao 1éu sem parceira,
então sofreno essa ânsia
de andar degustando as noites
e volto a beber nos mates
saudades de a1guém distante.

O vazio das madrugadas
preenche o rancho de anseios,
e até os pelegos do catre
sentem falta do teu cheiro.
Restou nas várzeas do tempo
restevas do amor ausente,
e em meu coração charqueado
raízes do amor presente.

Sigo acordando sóis
que pingam réstias no poncho,
e as janelas bocejando
pintam quadros no meu rancho.
Quando a guitarra emudece
e o meu peito se encerra,
a juriti ensaia um canto.
Que saudades da primavera!

Quem sabe esse tempo amargo
sinta sede dos verões,
bordando pastos nos campos
pra saciar recordações.
Quem sabe ao passar o inverno
possas voltar a querência
e sentir o aroma das fibres
que choram a tua ausência.


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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Guasqueiro é a arte gaúcha do couro cru.






Chama-se "guasqueiro" no Brasil, "guasquero" ou "soguero" na Argentina e no Uruguai, o artesão que usa como principal matéria prima de seus trabalhos o couro cru, couro vacum sem ser curtido.

A palavra guasqueiro vem de guasca, que significa pedaço ou tira de couro cru, sendo o guasqueiro, aquele que faz trançados exclusivamente com este material.

A origem deste ofício, remonta o período de colonização espanhola e portuguesa na América do sul, quando o “gaúcho histórico” começava a se desenhar nos campos do Rio Grande do Sul e dos países do Prata.

Caçando o gado selvagem abandonado pelos jesuítas espanhóis, surgia o trabalho do guasqueiro, que era o de fabricar artigos de couro para montaria.

Aproveitando a abundância de couro vacum e cavalar na região, o gaúcho que vivia sob o lombo de um cavalo, passou a desenvolver suas próprias técnicas na feitura de utensílios de montaria.

A partir da cultura equestre, herdada de portugueses e espanhóis com suas raízes árabes, aliado a arte de marinharia e sem esquecer da influência indígena, nasce um tipo de trabalho único, dado a complexidade e diversidade de suas técnicas, assim como o esmero na busca da beleza estética.

Entre uma correria e outra arrebanhando o gado "xucro", entre uma guerra e outra, os primitivos gaúchos viviam alguns períodos de ócio, tempo necessário para desenvolverem intrincados e complexos trançados de couro, destinados não somente para deter e guiar a sua montaria, mas também embeleza-la, já que era no cavalo e seusaperos que demonstravam seu orgulho e na maioria das vezes sua única fortuna pessoal.

Com a divisão dos campos em estâncias, o gaúcho tornou-se peão de campo, e o oficio dos guasqueiros, manteve-se vivo em seu dia-dia, fabricando as ferramentas de trabalho. Não foram poucos os que se dedicaram exclusivamente à profissão de guasqueiro, e passaram a fabricar os “aperos”, como são chamados o conjunto de peças necessárias ao trabalho a cavalo.
Alguns destes, passaram a receber inúmeras encomendas e tornaram-se famosos em suas regiões, seja pela resistência e durabilidade de seus trançados de trabalho, ou pela delicadeza e refinado gosto nos "preparos de luxo", para os dias de festa.
No séc. XX, o guasqueiro tradicional riograndense, assim como o próprio gaúcho, viveu seu período de decadência, com ofracionamento das estâncias e a diminuição de suas áreas, já não era necessária à mesma quantidade de trabalhadores, o que consequentemente teve seu reflexo nos guasqueiros, assim como também contribuíu para o seu declínio a substituíção do couro cru, pela fibra sintética.


Diferente desta realidade, na Argentina, por questões económicas e principalmente por uma retomada do nacionalismo e acima de tudo do tradicionalismo gaúcho, já em fins do séc.XIX, o ofício dosguasqueiros passaria a ser valorizado como uma identidade regional, e suas peças começavam a figurar em colecções particulares e museus, o que lhes deu notoriedade e garantiu a sobre vivência do ofício.


Nos dias de hoje, a exemplo do país vizinho, o Brasil e principalmente os riograndenses, começam a ver com outros olhos o trabalho do guasqueiro.

Com o crescimento dos criatórios de cavalo crioulo e o renascimento de um novo tradicionalismo, que busca não somente autenticidade, mas compreender sua essência, o guasqueiro volta a ativa e com força total, adapta-se a nova realidade e passa a produzir não somente os preparos tradicionais de trabalho, mas os que serão usados em pistas de exposições morfológicas, provas funcionais, bem como objetos decorativos, e de uso urbano aproveitando-se da antiga técnica.

Texto: Rodrigo Lobato Schlee | guasqueiro.blogspot.com
Imagens: Baruio | www.baruio.com

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